segunda-feira, outubro 23, 2006

O Anti-sonho...


Itaunas - uns tempos atrás... (retalhos de uma história)

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Estava a ponto de ter um colapso cerebral e resolvi ir dormir, ainda demorei algum tempo para adormecer, alguém tinha roubado a minha almofada e por isso resolvi pegar num colchão para apoiar a minha cabeça. Assim que me deitei de barriga para cima, a cama começou a tremer ligeiramente, dos quatro pés começou a sair um fumo branco seguido de um zumbido leve, as portadas abriram-se e a minha cama estava agora transformada num leito flutuante e, pairando suavemente no ar quente, voei para fora do quarto, subi ao céu e daí eu pude realmente estudar Itaúnas e ver onde estava.

Tal como me tinham dito, era apenas uma vila rodeada de um matagal gigante de eucaliptos misturados com a Mata Atlântica, regada por um rio ,que outrora foi mais largo, mas que apesar de não ser mais o mesmo, ainda alimenta um mangue que por sua vez mantém a vida daquele verde fantástico. A Vila resume-se a um emaranhado pseudo-organizado de ruas e ruelas de terra batida, composta por duas mais importantes perpendiculares ao rio, sendo que uma começa no mato e termina na ponte, não tendo mais que quatrocentos metros de extensão, paralelas a essas duas vias surgem para um lado quatro e, para o outro, duas ruelas mais estreitas repartidas por cinco ruas perpendiculares formando um conjunto harmonioso de quarteirões. No centro de tudo isto encontra-se a praça principal e a pequena igreja cor de esmeralda com as calhas caiadas de branco. Ao invés de uma estatua nesse largo, alguém ,que não sei quem é, decidiu colocar e homenagear um gigantesco tronco (ou raiz, sei lá o que é aquilo) que parece sei lá o quê e serve sei lá para quê.

Guiei o meu leito voador para conhecer as dunas, logo depois de atravessar o rio deparei-me com gigantescas carapaças de areia fina do tamanho de prédios de 10 andares sobre uma extensão quase interminável e só parando quando beijavam o mar, semeadas de pequenos arbustos e cajueiros. Mergulhei naquela areia e nadei até ao fundo, quando abri os olhos descobri o que anteriormente tinha sido a verdadeira cidade de Itaúnas, sentei-me na varanda de uma casa onde um velho varria desesperadamente a areia de dentro da humilde casa, cantando ao mesmo tempo um Ticumbi que pedia ajuda a São Benedito e tentando amenizar as disputas de Reis Bamba com Reis Congo . “Seu Tamandaré” como me foi apresentado teimava que a verdadeira Itaúnas deveria permanecer viva e rija, que ele infelizmente era o único a pensar nisso e tomar partido de corrigir o erro de terem desmatado a muralha de vegetação que defendia a Itaúnas das tempestades de areia. Junto com Dona Lindanor, sua mulher, ele é mais um dos mitos que tenta corrigir os erros da humanidade.

Voei de volta para casa, estacionei a minha cama no quarto e assim que entrei na sala vi o Tiago deitado num colchãozinho fino estendido no chão de cimento, coberto com a toalha da mesa e babar-se na minha almofada (finalmente encontrei-a). Ofereci-lhe a minha cama voadora pois já não precisava mais dela.

Fui para a rua com medo e curiosidade....

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